terça-feira, 29 de novembro de 2011

Halloween of the Fallen Masks...


*... os pecados de minha vida passada voltaram com os maus agouros de sua presença. Primeiro foi seu cheiro familiar, eu não o conhecia, mas sentia a malicia de um prazer saudoso. As lembranças pouco a pouco violentavam minha morada mental, memórias nefastas que enegreciam minha alma numa velocidade absurda. Eu não podia descrever nem resistir, caminhei até a porta entregue, e lá estava ela. Me encarava de um modo insosso, talvez por eu ser apenas uma criança aprisionada nas teias da reencarnação, ou talvez por essa ser sua natureza única. Seu corpo libidinoso me convidava ao inferno de outrora, onde eu era uma sombra, um mago das trevas. Eu me lembrei das virgens que havia feito cair, que havia conduzido aos lordes do infernais. Me lembrei das faces angelicais tomadas pelo prazer insano, das asas brancas se tornando negras. Eu havia renunciado este pandemônio então porque ele voltava a mim? A morte não seria suficiente? O que Allustriel queria comigo? E porque eu estava me lembrando de uma vida que não era mais minha?...*

*...a cada toque eu experimentava novamente o sabor do sexo. Experimentava, revivendo as milhares de vezes em que eu a tive em meu leito. Estupros consecutivos interrompidos por outras ambições, nenhuma benevolente. Ela me fez reviver toda nossa relação doentia. Eu me senti violado, senti minha inocência se estilhaçar no mar de sujeiras que um dia havia cometido. Ela me queria de volta, tinha planos para mim...*

*... eu aprendi novamente a manipular o universo ao meu redor, meus poderes ocultos, malfadados, bloqueados pelas leis divinas do esquecimento retornaram. Eu via cores por todos os lados, podia sentir a inquietação de minha mãe que sonhava, e a promiscuidade de meu pai, num cheiro verde pútrido, exalado por cada célula de seu corpo. Eu sentia também os pequenos demônios oníricos nas casas vizinhas, vampirizavam aqueles que tinham abandonado seus anjo celestes. Eu podia perceber o mal em toda sua extensão. Minhas pernas tremiam, cediam as possibilidades que se triplicavam a cada segundo. Havia dentro de mim uma fagulha, um intento de não pertencer mais aquela vibração. A mesma fagulha que havia me feito trair Allustriel em minha última encarnação. Entretanto, eu era apenas uma criança confusa com dez mil anos de vivências inseridas alma a dentro. Não sabia o que fazer.



*... ela havia fugido do mesmo inferno que eu. Seu coração negro procurava a luz, mas ainda não aceitava o frescor da alegria ou de qualquer outro sentimento brando. Seu egoismo treinado me queria a qualquer custo, queria que eu a ensinasse a fugir do pacto eterno. Ela queria que negássemos os dois lados, os céus e os infernos. Queria viver eternamente comigo, ou com o mago que um dia fui. Anunciou que voltaria com Cronos/Saturno, quando eu completasse vinte e oito anos. E então partiu... *


*...os pecados de minha vida passada voltaram com os maus agouros de sua presença. Depois de sua partida não fui mais o mesmo. Dentro de mim moravam várias outras consciências, vozes distintas que muitas vezes assumiam o comando. Eu me sentia apenas mais uma voz de um ser muito maior. Minha totalidade era um beco escuro com moradores demoníacos. O inferno era meu ser, pois eu percebia as mentiras, desejos e intenções negativas de todos. Muitas vezes me enfurecia vendo a sujeira que as pessoas criavam, sentia ódio, vontade de esquarteja-las. Queria que sentissem dor, dor para aprenderem o mal que estavam causando. A mesma dor que eu estava sentindo por tudo que havia feito. Tinha que me conter, orar, pedir a Deus a paz que os anjos gozam. Pedir piedade e um mapa para o amor, pois eu não sabia onde encontra-lo. Minha resposta veio com um ser alado, que dizia ser meu Guia...*



*...Jaheira admitiu que sempre sentiu um certo temor em seu meu anjo da Guarda e que muitas vezes aparecia em meus sonhos na forma masculina com medo de sua natureza feminina incitar meu passado. Ela era um guia doce e que me transmitia muita paz, sua voz adocicada e seu toque suave reconfortavam minha alma perturbada. Sua presença era sempre marcada pelo cheiro de rosas, que condiziam com sua personalidade frágil. Desde o primeiro instante notei em seus olhos azuis uma profundidade depressiva, incompleta. Eu sentia que ainda existia uma pendencia para sua plenitude. Foi com ela que aprendia contornar meus impulsos profundos. Enquanto eu dormia ela me ensinava a separar cada uma das personalidades tenebrosas que me habitavam. Aprendi a dividir minha alma, a construir um refugio das lembranças horrendas de minha outra vida. Ela me preparava para o que chamava de "Baile de Máscaras",  o aperfeiçoamento do aprendizado que eu estava tendo. Dizia que todas as vozes  aprenderiam a dançar a mesma música, e que eu escolheria qual seria. A cada noite quando estava com ela, eu me sentia estonteante, A vida cotidiana não tinha nenhum sentido. Ela devotava seu tempo a mim e eu ao que ela me ensinava. Eu tinha sua total atenção e aquilo me alimentava. Fossem nos jardins que criamos juntos ou nas cidades espirituais em que ela me conduzia, estávamos em plena sintonia. Quando ela sorria minha vibração crescia de tal forma que chamávamos atenção indevida. Éramos constantemente avisados sobre nossa aproximação, diziam ser perigosa, mas meus avanços em me tornar um ser humano melhor eram tão evidentes que conseguíamos continuar a nosso modo. Aos poucos eu pude ver os olhos profundos se tornarem confiantes, perderem a expressão amedrontada. Eu fazia bem a ela, e pela primeira vez sentia o gosto inefável do amor..*

*... adquirindo certo equilíbrio consegui conhecer muitas peculiaridades das vozes em mim. Eu podia sentir os olhares furiosos e a maldade que cada uma possuía. Alguns me incitavam a raiva, outros a assassinatos. Eram sentimentos poderosos e desequilibrados, psiques que cultivei em outras vidas. Eu refletia intensamente sobre como fazer aquelas vozes dançarem uma mesma música. Eu precisaria enfraquecer cada uma delas, precisaria eliminar o que as alimentava. Então vivi apenas de amor. Eu não sei se minha Guia percebia meus sentimentos, mas sentia que ela os correspondia, mesmo que inconscientemente. Eu passava muito do meu tempo em sua mente, com seu equilíbrio celeste, vendo a imagem bondosa que tinha de mim. Conseguir me enxergar assim era minha maior força, porque a cada progresso, a cada avanço ela sorria. E quando isso acontecia eu me sentia o máximo...*

*...Numa das muitas tardes em nosso jardim, enquanto eu meditava algo estranho aconteceu. Lembranças perdidas invadiram minha mente. Eu vislumbrei o mago que um dia fui, encarando um espelho grande, parecia ser mágico. Refletido no espelho, existia uma imagem distorcida, que eu sabia ser de Allustriel. Ao olhar para os borrões, o mago negro se enfureceu, ele sentia um ciúme tão estrondoso que comecei a sentir o mesmo, era incontrolável. Meus olhos enegreceram e minha consciência se alterou. Eu fiquei tão perceptivo e habilidoso que controlei tudo ao meu redor. Mantive minha vibração alta, para que a Anja Guia que meditava ao lado não percebesse a mudança. Com alguns caprichos energéticos disfarcei a negritude de meus olhos nas cores habituais. Algo dentro de mim sorria por dentro, eu sentia uma liberdade enorme. Eu era um prisioneiro milenar que acabava de sentir sua soltura. O maior premio era mesmo a anja Jaheira, cada centímetro do meu corpo queria sentir a queda dela. Eu queria arrancar suas asas e virgindade com toda a dignidade que ela merecia. E eu tinha poderes para isso. Afinal meu nome era Willian Pollack, o mago negro. A cada segundo, a lembrança do que eu havia visto no espelho despertava mais desejo em mim. Refletido no espelho, Allustriel transava com vários anjos. Eu queria o mesmo, queria fazer Jaheira cair...*



*...com um simples toque no pescoço eu retirei todo seu equilíbrio. Minha anja da guarda, outrora livre de prazer, se contorceu a mais sublime luxúria. A maldade dentro de mim, amplificada pelo apego que eu sentia, arrancou-lhe as defesas. Seu corpo voluptuoso curvou-se ao meu desejo. As trevas do meu ser tocaram sua luz, e o portfólio  angelical se foi. Eu a consumia com voracidade, me fortalecia com a angústia confusa gerada pelo prazer da primeira vez. O elo divino que tínhamos se enfraquecia a cada penetração, a cada gemido.  Eu queria sentir cada músculo se esticando, se perdendo. O prazer era tão intenso que seus olhos não tinham tempo pra enxergar, ela apenas balbuciava frases desconexas entre o sim e o não. Seu cheiro de rosas me deixava louco, ele enfraquecia lentamente a medida que o odor do sexo tomava conta de todo o jardim. Mãos negras brotavam do que antes era um lindo gramado. Fumaças bruxuleantes e o céu avermelhado. Algumas penas de suas asas brancas se perdiam declarando a iminência de sua queda. Eu estava faminto, queria leva-la ao orgasmo, ao topo mais alto da sexta camada dos nove infernos, onde somente os Sucubus se aventuram. Seu suor escorria por minha pele resfriando os corpos que estavam em chamas. E num segundo que pareceu eterno... ela se foi. Gritou como nunca antes pudera, entorpecida por algo que jamais experimentara. O sorriso que desferiu me levou as alturas, me olhou nos olhos e eu vi o que precisava ver. Paixão...*



































*... Jaheira não derramou uma só lágrima por sua queda, sua condição Angelical não sustentava sua força e sim seu objetivo, me ensinar. Ela olhou em meus olhos e minha pequena ilusão foi desfeita, revelando o negror de minha iris. Naquele instante eu tive certeza de que ela esperava por isso. Talvez fosse esse o motivo de seus olhos estarem sempre amedrontados, sempre depressivos, esperando por algo inevitável. Eu não era mais o pequeno Joshua, e sim o mago das sombras. E Jaheira era minha posse, minha instrutora, minha mulher, minha caída linda. Ela me acompanharia por toda a eternidade. Continuamos o treinamento em nosso jardim, com o mago liberto, eu me tornei excepcional, aprendi em semanas coisas que levariam anos. Passávamos as manhãs em meditação, as tardes em trinamento e as noites em paixão profunda. Essa rotina alimentava minha mente, corpo e alma. O jardim, outrora encantador, estava mais sombrio. Ele era fruto de nossas energias combinadas e era um bom retrato do teor do nosso interior. Jaheira nunca reclamou das mudanças, tornou-se parte de mim, numa simbiose profunda...*




*...quando conheci as fadas que habitavam nosso jardim elas não pareceram se importar com minha essência malévola. Pelo contrário, as pequeninas adoravam magos e suas capacidades. Pousavam em meu ombro, me presenteavam com seu pólen mágico e algumas até me lançavam olhares luxuriosos. A Rainha das fadas, Kirenna, tinha uma beleza que me atraía. Seu cabelo branco e seu corpo magro adornado de magia eram tentadores. Aprender com as fadas não é uma coisa fácil, elas rapidamente misturam todos os sentimentos ao ponto de enlouquecer qualquer um. Mantive os meus em Jaheira e na nova fase que estávamos vivendo, isso me manteve lúcido. A fada a que mais me afeiçoei era conhecida como "Aeris", uma pequenina sapeca, mas muito astuta. Dominava a magia de seu povo, o "fogo das fadas" , como ninguém e ainda lia meus pensamentos sem nenhuma resistência. Ela parecia gostar, pois mesmo a mancha mais profunda de minha alma não a assustava. Foi com ela que avancei na arte de controlar meus poderes...*


*...Aeris me explicou que eu precisaria vencer cada um de meus demônios e que isso não seria fácil. Mas que ela poderia acelerar o processo. Eu teria que suportar dores inimagináveis, dores físicas e emocionais. Ressaltou também o perigo que isso significava, se eu perdesse totalmente o controle poderia matar a todos. Eu me sentia confiante e muito forte, com Jaheira ao meu lado meu equilíbrio emocional era pleno. Aceitei sua proposta e ela então carregou minha consciência para um ponto passado de minha vida. Longe de meu corpo eu era apenas uma energia, que ela depositou em uma fonte. Eu estava acorrentado numa caverna úmida e intranquila. Meu corpo era castigado por uma espécie de culpa, que ardia fisicamente. Eu sabia estar preso ali por ter despertado uma besta colossal com rituais macabros. Os anjos haviam me condenado a sentença perpétua de um purgatório solitário. Enquanto sofria com meu corpo em brasas, escutei ruídos e presumi uma aproximação. Era uma serpente negra que se aproximava de meu corpo nu. O medo não foi tão intenso quanto a dor que ela me proporcionou.


Ela devorava generosas partes de minha alma negra, numa sensação indescritível. Eu urrava enfurecido por estar ali. Amaldiçoava a divindade e tudo mais que existisse para o bem. A cada segundo eu jurava que iria retribuir a dor que estavam me causando, ira destruir os sete céus. Eu gritei por longos anos sem ninguém ouvir. Quando nada mais me importava eu pedia forças ao meu ódio, pedia que ele mantivesse minha sanidade que pouco a pouco se esvaia. Lembrei então do ritual que me colocara ali, da besta colossal pela qual fui condenado. Guardei pequenas parcelas de energia até ter o suficiente para a invocação. Invoquei-o dentro de mim. Uma força estrondosa alimentou meus músculos, elevando meu ódio a níveis extraordinários. Eu mastiguei a serpente que me devorava, mastiguei com voracidade seu crânio e me deliciei com sua carne fétida de meus pecados. As correntes me pareceram barbantes de tão frágeis e eu gargalhei perante a liberdade. Meus olhos enegrecidos mudaram de cor, eu estava com a besta da fúria em meu corpo. Queria torcer alguns pescoços para escutar estalar dos ossos. Queria arrancar corações com as mãos, queria a violência...*


*...escutei a voz de Aeris  no fundo de minha consciência, ela me dizia para retomar o controle. Me lembrava que eu não estava naquela situação, era apenas uma lembrança que eu estava revivendo. Disse que eu deveria expulsar o demônio do meu corpo e que aquela era a hora. Eu realmente não sabia como fazer aquilo, como conter todo aquele poder. Fechei meus olhos e me fixei na imagem distante que eu tinha de Jaheira. Os anos ali haviam me feito esquecer o cheiro de seu perfume. Pouco a pouco eu sentia o demônio enfraquecer, ficar impelido a sair. Ele resistia bravamente com acessos furiosos que eu continha me concentrando na vermelhidão do cabelo que me trazia a paz. Num esforço descomunal, explodi forçando-o a sair. E então caí no inconsciente, na escuridão pacifica de do vazio que há dez anos não sentia. Silêncio...*






*...em meu repouso sonhei com com a ambiguidade. Duas anjas, luz e trevas, seguravam o mesmo espelho que me havia feito enegrecer. Eu não via minha imagem refletida, via apenas o eclipse soberano no céu. Elas retratavam meu interior, minha luta ainda indefinida. As vendas em seus olhos revelavam imparcialidade, como se eu pudesse fazer minhas escolhas. Cada uma delas estava ali apenas para segurar o instrumento que refletia minha alma. Eu notei a escuridão do eclipse e tive um vislumbre do que estava me sendo dito. Minha alma ainda tinha resquícios de bondade, mas estes estavam perdendo território devido a minhas escolhas. Eu não conseguia sentir nada, apenas observar, era um juiz mudo. As consequências de meus atos reverberavam pelo universo, e ele estava caótico...*






























*...ao abrir os olhos tive a falsa ilusão que a dor havia partido. Eu me descobri nas ruínas perdidas de algum plano inferior, onde a destruição era a paisagem. Meu coração ardia flamejante tirando toda minha respiração. A imagem grotesca da destruição de Jaheira dilacerava minha paz. Eu a via sendo possuída pelo demônio que eu havia expulsado de mim. Eu a vi destruindo as fadas e todo o nosso jardim. A besta, encontrara a porta que eu deixara aberta. A ausência do divino na indefesa alma de minha Guia foi sua perdição. Ela estava insana, por onde passava a vegetação apodrecia e os animais eram desintegrados. Ela matou a todos que encontrou, sua alma adquirira o teor da insanidade. Eu sabia, mesmo sem acreditar, que ela nunca mais seria a mesma. Eu havia vencido a besta, mas não sem sequelas. Meu cabelo antes branco estava negro, minha amada, dilacerada por dentro. Meu coração estava em frangalhos, apenas minha força , contraditória a tudo mais, estava mais forte. Pela primeira vez em muitos anos, eu estava sem chão. Sentia a solidão do universo, a de um universo hostil, onde não se pode errar...*

*...após semanas na completa escuridão Aeris apareceu. Ela chegou silenciosa cuidando da inicial do inferno que eu havia gravado em meu rosto. Agia normalmente, como se nada tivesse acontecido. Eu gostei daquilo, sabia que ela estava lendo meus pensamentos. Sabia que ela me ajudaria sem abrir a pequenina boca, caso contrário estaria morta. Ela ficou ali por mais alguns dias, trazia alimentos faéricos que eu tinha me habituado a gostar. Eu sentia vontade de agradecer mas não era preciso, a medida que pensava percebia seu entendimento, sua compreensão. A pequena fada cuidou de mim como sua antecessora, sua paixão platônica havia a feito sobreviver. Ela era uma fada astuta e ambiciosa. Comia meu coração pelas beiradas, tornando-me dependente de seu zelo. Eu resolvi jogar seu jogo, não tinha mais nada a perder...*

*...retornamos a a cidade espiritual, uma das preferidas de Jaheira. Eu estava disposto a caçar a besta, mas como destruir algo imortal? Eu queria os cacos de minha Guia, sabia que sua sanidade ficaria eternamente comprometida, mas queria os restos daquilo que era meu. Eu procurava por ajuda, procurava o conhecimento que me levaria ao combate, a enfrentar face a face o demônio para quem abri as portas. Muitos anjos ignoraram minha presença pela vibração que eu emanava. Ali as trevas de meu ser eram como uma chama num quarto escuro. Foram poucos os que tiveram compaixão de minha atual situação. Os demais me olhavam como o mago cruel que um dia fui, pressentiam que minha alma estava num estado crítico e que o retorno a luz era uma promessa vaga e distante. Eu percebia a confusão de alguns, em cidades como aquela somente espíritos de frequência elevada entravam. Além de eu poder modificar a vibração com minhas capacidades arcanas, Aeris tinha livre acesso por quase todos os planos de realidade. Era uma companheira útil. Eu não pretendia esconder a verdade de ninguém, se preciso destruiria todo aquele lugar, mesmo que isso significasse minha morte...*


*...Gabrielle foi a celeste que me ajudou. Ela me trouxe a luz que espantaria a escuridão do coração de meu amor. Entregou-me a esfera luminosa ressaltando a importância do artefato que me confiava. Disse que tal relíquia espantaria a besta do corpo de Jaheira, mas não de nossas vidas. Eu não me preocupei com a baboseira celestial que ela vomitava com seu amor divino. A compaixão dela me era útil e só. Ter que ouvir sermões não estava nos meus planos. Saí dali o mais rápido que pude, Aeris me encarava esperando que eu dissesse algo. Talvez ela estivesse curiosa sobre o papel que representaria após a volta de minha Guia. Eu me diverti com sua confusão, ela estava se perdendo, contaminada pela decadência de meu coração. Esperar retribuição era um ato falho. Não aconteceria. Mesmo ciente de todas minhas idéias ela continuou a me acompanhar. Presa a seu próprio sentimento ilusório que a faria dilacerar sua alma...*




*... ao me deparar com a horrenda face de meu antigo morador, senti que nossas essências ainda estavam conectadas. Cravei a esfera luminosa em seu peito, com toda a frieza que eu havia guardado aceitando as perdas lastimáveis que meus atos provocaram. A relíquia começou o processo de obliteração, destruindo a besta. Eu a encarava com a satisfação da vitória. Via lentamente sua natureza tenebrosa derreter até só restarem cinzas. Minha falsa honra se desfez com a cena que vi a seguir. Eu não estava preparado para tal imagem, não estava preparado para aceitar a culpa de meus atos. Não estava disposto a encarar o espelho de minha alma. Aeris me encarou da mesma forma que eu havia a subjugado, Eu acreditei que seu platônico amor fosse mo motivo, mas entendia agora que sua preocupação era quanto ao que estava a minha frente. Jaheira estava irreconhecível. Eu havia criado um monstro.





































*...ela era meu exato retrato. Estava irreconhecível em seu novo semblante. Assim como as duas luas retratavam mercúrio, a vermelhidão em meio ao branco trazia marte. Minha lua e ascendente estavam representados na figura dela. A profundidade com que se entregara fora tamanha, que meus abismos ficaram expostos, ela havia se tornado meu espelho. A intensidade de plutão em minha alma havia feito um ser que nasceu para a vida praticar a morte. Meu signo solar estava em sua alma, nos crânios repousados sobre a planície, no sangue em suas mãos e até no seu olhar possuído. Cada milimetro de minha construção planetária estava representada ali. Seu olhar vago repousou sobre mim, me encarando, como se eu fosse familiar, como se eu fosse algo a ser entendido. Aos poucos sua essência ia se libertando da possessão e eu não tinha coragem de me mover. O que eu diria a ela? Ela havia experimentado por alguns meses o que eu tenho experimentado a dez mil anos. Não existia amor nisso, apenas ódio e ambição. A simples convivência a confinara a perder eternamente o equilíbrio que possuía e eu não sabia o que esperar, não sabia como ela iria reagir. Aos poucos ela foi adormecendo até desfalecer em meus braços. Eu tinha a esperança que ela despertasse achando ter tido um sonho ruim, mas sabe como são as esperanças...*


*...seus olhos não pareciam mais amedrontados, mas também não tinham a confiança de outrora. Eu percebia a magoa e a dor em sua expressão. Ela anunciou sua partida sem me tocar. Eu senti que nada podia ser dito. O orgulho vencia bravamente o amor em meu peito, eu queria rastejar aos seus pés implorando perdão. Ao invés disso deixei que partisse. Eu sabia que nunca mais a teria, não com o sorriso pela qual me apaixonei. Nossa relação possível seria doentia, e eu não tinha o direito de afunda-la ainda mais na senda das trevas. Gabrielle estava certa em suas palavras, a besta sairia do corpo de Jaheira, mas não de nossas vidas. Eu fiquei quieto vendo cada a cada passo o ultimo resquício de amor partir. Meu coração enegrecia ainda mais, tomado pela dor do despedaçar de um universo de luz. Eu havia perdido Jaheira, o que mais eu poderia perder?...*







*...naquela mesma noite sonhei com um passado distante. Eu revivi os primeiro beijos que troquei com Allustriell, quando ela ainda era humana. A nobre, era uma mulher linda e ambiciosa que não sabia resistir a seus instintos. O frenesi que causei em sua alma inocente, fez vir a tona o vulcão egoísta de sua essência. Ela se apaixonou perdidamente e resolveu me seguir, deixando tudo para trás. Eu a conduzi ao inferno como um dono conduz seu cão. Seria essa minha maldição? Apodrecer todas aquelas que entram em minha vida? Desalmar os corpos até que o ódio fosse seu alimento?  Corromper cada célula de luz ao apagão da morte? Eu sentia a presença de minha antiga companhia se aproximar. O sonho era um aviso, um augúrio. Ela estava retornando e eu precisava me preparar. Suas ambições eram concretas, eu havia a ensinado a ser impetuosa. Ela iria ter o que queria ou iria me destruir. Eu nada poderia fazer...*



*...na manha seguinte as coisas estava diferentes. Asas negras nasceram em minhas costas revelando a decadência de minha alma. Eu estava deixando de ser humano, estava avançando limites perigosos do abismo. Não havia tempo para consolo em minha organização e meu apetite sexual fora instigado pelo sonho da noite anterior. Aeris lendo meus pensamentos premeditados, assumiu a forma humana, entregando-se a mim sem restrições. A fada tinha seus encantos, a textura de sua pele, o gosto mágico de sua energia. Eu a consumi para satisfazer minha sede. Me diverti com a ideia de te-la para sempre, de escurecer seu brilho faérico. Eu não me permitiria mais amar, não suportaria perder outra vez. Jaheira seria imortal, uma homenagem a falência de meu coração...*



*...com Aeris ao meu lado os dias passavam menos acinzentados. Eu me dedicava a ficar mais forte e ela me dava o suporte e conhecimento necessário. Uma coisas que todos devem saber sobre os magos. Eles manipulam seus campos vibracionais, alterando-os a merce de seus desejos. Sua mente concentra-se no campo das possibilidades, onde ele enxerga o futuro e o altera. Ele sabe sempre o dominó certo que quer derrubar para a reação desejada. Quanto mais forte o mago, maiores suas capacidades e recursos. Originalmente esse caminho era utilizado na luz, os magos, são ferramentas do universo para que seja feita a vontade do Todo. Assim como eu , muitos utilizam seus dons para conseguirem o que querem, para abandonar a imposição das leis universais sobre si. O problema é que nesse nível de conhecimento, as escolhas tem uma força avassaladora. O intento de um mago é algo poderoso. Escolher sair da luz da bondade é escolher mergulhar poço das trevas. Eu estava como o Arcano nove que descobre que todos os caminho levavam a Deus e por isso prefere viver em loucura. A lanterna que eu carregava era minha única luz. Eu passava horas meditando, aperfeiçoando a música que acontecia dentro de mim. Restavam apenas 3 demônios para serem depostos. Eu ja havia derrotado outros cinco. Allustriel se aproximava preocupantemente, restava apenas um ano para que ela retornasse. Eu ainda não era forte o suficiente para resistir a sua vontade. Seria esse meu destino, tonar-me escravo de uma humana inferior a mim? Com a  minha morte e reencarnação, eu me desliguei de uma grande parcela de conhecimento e força. Ela por sua vez, sobreviveu todo esse tempo, acumulando poder. Podia fazer o que queria e poucos podiam para-la. Eu a treinei bem e a não ser que ficasse mais poderoso, ela me conduziria por aí como um dono conduz seu cão...*


*...Ela surgiu no horizonte como um mau presságio. Eu podia sentir seu mal cheiro angelical se espalhando pelo ambiente. Gabrielle se aproximava lentamente, trazia consigo a paz irritante dos celestes. Eu sabia que cedo ou tarde os anjos iriam interferir em minha jornada, e que uma guerra iria se anunciar. A anja trazia consigo uma chave, um objeto que poderia auxiliar em meus desígnios. Ela disse que eu não conseguiria expulsar os demônios restantes a tempo, e que aquela chave os libertaria. Não é curioso? Como pode um anjo querer libertar seres abissais? O nome Gabriel significa : "Enviado de Deus" e de certa forma eu sabia que ela estava ali por ordens do divino. Explicou que Allustriel libertara os outros selos que eu havia escondido em minha vida passada, e que eu precisaria concluir o "Baile de Mascarás" para resistir aos avanços dela. Contou que os céus se encarregariam dos demônios e que eu deveria me focar em minha antiga aprendiz, ou seja, ela queria que eu a destruísse, queria que eu limpasse a sujeira que um dia fiz...*



*... Gabrielle era um anja diferente dos outros. Ela parecia seguir um código próprio, um conjunto de idéias específico. Sua ajuda aparentava ser bondosa, mas estava sempre atrelada aos desígnios do divino. Seu olhar não conhecia o medo, penetrava minha alma negra com uma tranquilidade, horrenda, descabida. Ela era imune as vibrações luxuriosas que meu campo vibracional emanava, tocava meu corpo sem se preocupar com os efeitos voluptuosos que eu conscientemente produzia. A vontade de Gabrielle era louvável, me intrigava o papel dela nisso tudo. Eu me sentia manipulado, de alguma forma sendo ordenado a fazer o que ela propunha. As palavras saiam de sua boca de uma forma que eu não podia contestar, seus argumentos eram definitivos, sufocantes. Te-la como aliado era minha única saída para o cenário que se formava. Allustriel estava causando um novo pandemônio como distração, seu objetivo final era chegar a mim. Os céus se preparavam para a guerra, garantindo cegamente que os demônios não fizessem mal a nenhum humano. Eu tinha dois objetivos primários. O primeiro era expulsar as bestas de meu corpo e o segundo era me livrar de minha antiga aprendiz. Gabrielle chegava com todas as respostas a mão, uma chave que resolveria tudo. Não me agradava que ela fosse minha salvadora e que tivesse sempre a solução para meus problemas, mas não podia deixar meu ego interferir em minha sobrevivência...*



*... Assim que utilizei a chave acreditei ser o fim. A presença que senti me fez tremer dos pés a cabeça, como seria possível? Sentado no escuro estava Lúcifer, o primeiro caído. Ele me encarava de modo curioso, eu não conseguia fazer a leitura de sua expressão. O medo percorria meu corpo exilando meu raciocínio, eu era uma criança inocente a mercê do mal. Os primeiros minutos em silêncio me proporcionaram várias projeções. Ele estaria ali para me levar de volta ao inferno? Estaria ali para destruir minha alma? Poque ele viria pessoalmente fazer isso? E porque diabos não dizia nada? Seus olhos penetrantes responderam meus pensamentos. Ele estava ali porque queria algo de mim, desejava que eu fizesse algo por ele, algo que eu não me atreveria a negar. Senti minha alma se desprender do corpo, uma amostra de seu poderio, uma ameaça dizendo o quão fácil seria me destruir. Eu nada pude fazer, todas as energias obscuras daquele lugar incógnito invadiram meu ser. Ele estava me dando sua capa, seu poder. Lúcifer não desejava que eu libertasse os demônios, sua vontade era que eu os dominasse. Ele queria que eu possuísse a força dos três, queria que eu os domasse. Sussurrando em meu ouvido estavam as vozes agourentas de milhares de almas castigadas. Elas estavam sedentas pela carne, pela alma de Allustriel, era um ódio descomunal. Foi então que entendi seu propósito. O primeiro caído me emprestaria sua capa para que eu pudesse ter força para domar os abissais, estes, por sua vez, me dariam recursos para destruir Allustriel. Esse era o preço por minha alma. Antes de partir ele sorriu, e eu soube que não voltaria ao mundo cotidiano, visitaria o inferno com as credenciais de seu criador. O baile seria de gala...*




*... Uma derrota significaria perder meu corpo para sempre. Eu pude ver nos olhos dos gémeos de fogo e gelo a sede pela liberdade. Eles me atacaram com todas as suas forças, reconheciam que eu era a chave de sua prisão. Sem a capa de Lúcifer eu jamais os derrotaria, primeiro pelo poder, e segundo pela presença daquela energia. Ela afastava os infernalizados que eram numerosos. Com facilidade separei suas cabeças de seus corpos, nada pessoal.


*Continua,,,*




domingo, 20 de novembro de 2011

O retorno de Saturno...



São lábios afinados num tom mutável de uma inconstância não sintonizada...
Os que refletem as imagens do abismo de uma caixa torácica pulsante.
Maldizem a continuidade promiscua de uma linearidade de malfadadas emoções.
Onde o desordenado ordena cores psicodélicas.

São frutos do vazio aleatório,
os personagens caricatos que chegam ao topo.


Degustam a vida consumindo seus corpos,
braços, mãos, dedos e alma,
por terem se libertado do hospício da razão.



Bem vindo ao circo dos pesadelos...



Sabe que horas são?












???????????????????????????????????????
















kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...













E hora do chá....